O metaverso da Nvidia
O metaverso está começando a ganhar a pauta nas rodas de conversa. De uma forma geral, é um termo novo. Para quem trabalha com tecnologia ou está sempre por dentro das tendências, não é tão novo assim. Inclusive, uma das profissões do futuro apontada recentemente pela Forbes é “especialista em metaverso”.
Mas, para qualquer pessoa no mundo real, se trata de um universo ainda a ser descoberto. Ou melhor, desenvolvido. (Se você ainda não sabe o que é metaverso, corre aqui.)
E uma das empresas que está despontando nesse caminho é a Nvidia ($NVDA). A líder mundial do mercado de chips também está desenvolvendo tecnologias para a "internet do futuro”.
Omniverse, a plataforma de metaverso da Nvidia
O metaverso da Nvidia se chama Omniverse. Em uma definição simples, da própria companhia, é uma "plataforma para colaboração em design e simulação". Foi lançada no início de 2021, e teve mais detalhes divulgados em novembro.
"Uma plataforma de desenvolvimento de referência em tempo real multi-GPU (chip gráfico) escalonável para simulação 3D e colaboração de design, baseada na descrição de cena universal da Pixar e na tecnologia NVIDIA RTX”, diz o site onde as pessoas podem baixar a versão beta. Mas provavelmente você só vai conseguir acesso se for designer ou programador. A fase é de testes e desenvolvimento, então a Nvidia está buscando gente que contribua com melhorias na plataforma.
Hoje, já são 70 mil pessoas nesse grupo, criando mundos virtuais, avatares e ajudando aprimorar as tecnologias. A Nvidia diz que o Omniverse "foi desenvolvido desde o início para ser facilmente extensível e personalizável com uma estrutura de desenvolvimento modular. Enquanto os usuários finais e criadores de conteúdo aproveitam a plataforma Omniverse para conectar e acelerar seus fluxos de trabalho 3D, os desenvolvedores podem se conectar à camada de plataforma da pilha Omniverse para construir facilmente novas ferramentas e serviços”. 700 empresas também estão testando o Omniverse.
Uma visita rápida ao site já dá a dimensão do quanto a empresa já avançou no metaverso. São várias soluções que misturam inteligência artificial, compreensão da linguagem natural, visão computacional, mecanismos de recomendação e tecnologias de simulação.
Indústrias no metaverso
É mais comum pensarmos no metaverso como um espaço virtual para entretenimento e interação com amigos e trabalho remoto, como o "novo" Facebook. Mas ele é muito mais do que isso.
O metaverso da Nvidia, por exemplo, engloba desde soluções para empresas se conectarem melhor com seus clientes, até realidade aumentada para facilitar a sua vida no trânsito e também torná-lo mais seguro.
Nvidia Drive Concierge: um guia inteligente para os carros, que ajuda o motorista a ler o trânsito, alertando sobre pedestres, obstáculos e a direção dos outros veículos. Também escolhe a melhor rota e avisa quando vai faltar gasolina ou bateria, no caso de carros elétricos.
Mas vai muito além disso. A Nvidia construiu uma cidade virtual para ajudar a Ericsson a implementar a tecnologia 5G. E está criando indústrias inteiras nesse ambiente virtual. Mas não é uma simples “maquete” digital. É a indústria funcionando exatamente como no mundo real, o que permite que todos os processos sejam acompanhados em tempo real, que tudo o que está sendo feito pelas máquinas seja visualizado em detalhe e, a partir disso, decisões importantes podem ser tomadas com mais precisão e rapidez. Além disso, todo o maquinário é monitorado de forma interligada, e se qualquer problema está prestes a ocorrer, é possível rastrear com antecedência.
É o caso da fábrica virtual que a Nvidia construiu para a BMW:
Fábrica gigantesca da BMW no metaverso da Nvidia. Imagem: Reprodução/Nvidia Esse tipo de projeto é chamado de “gêmeo digital”, por ser a reprodução virtual exata de algo do ambiente físico. A previsão da BMW é de aumentar em 30% a eficiência ao projetar novas plantas industriais e produtos no metaverso.
E claro que o Omniverse tem os famosos avatares - que é uma das primeiras coisas que vêm à cabeça quando pensamos em metaverso, né? A Nvidia quer entregar personagens ultradetalhados com gráficos 3D e ray tracing, que vão poder enxergar, ouvir e interagir com pessoas com naturalidade.
Qual é a diferença do metaverso da Nvidia para o metaverso da Meta?
O conceito do Omniverse é praticamente o mesmo do metaverso anunciado pela Meta (a “antiga” Facebook Inc.). Mas quem entende bem do assunto aponta que as soluções da Nvidia têm mais refinamento gráfico. Isso garante uma experiência ainda mais imersiva e hiper-realista em 3D, que são o DNA do metaverso. Aliás, a tecnologia da Nvidia reproduz até as leis da física no ambiente virtual.
Além disso, o metaverso da Nvidia parece estar mais avançado e abrangente que o de Mark Zuckerberg. Inclusive porque já está monetizando o seu metaverso, através das indústrias, por exemplo, que citamos acima. O próprio Mark referenciou a Nvidia na conferência anual do Facebook, em julho: “(…) empresas como a Nvidia, que estão construindo muitos dos chips gráficos que serão realmente importantes para grande parte do conteúdo que acredito que será cada vez mais intenso em termos gráficos".
Chips gráficos superpotentes são fundamentais para rodar toda a realidade virtual e a realidade aumentada do metaverso. E o potencial que os especialistas atribuem à Nvidia no mercado do metaverso está justamente nos seus chips gráficos, os GPUs, que hoje atendem o setor de games com altíssimo padrão.
70 mil usuários têm acesso à versão beta do Omniverse e desenvolvem suas próprias soluções e mundos virtuais com os recursos da plataforma da Nvidia. Imagem: Reprodução/Nvidia Mas a Nvidia quer mais. Está tentando comprar a Arm, fabricante britânica de chips que hoje pertence ao Softbank. “Estamos comprando a Arm porque queremos avançar ainda mais na computação. O futuro da computação se moverá cada vez mais da nuvem para o limite. É nisso que Arm é fantástico. Onde somos fantásticos é em IA (inteligência artificial). Então, imagine as possibilidades de colocar a IA no limite”. As palavras são do fundador e CEO da Nvidia, Jensen Huang, no site que a empresa criou pra defender a aquisição, que está passando por escrutínios de órgãos reguladores.
Assustador?
Vem do Omniverse o avatar de um quiosque inteligente que conversa com os clientes de uma forma tão natural que até assusta. É o Projeto Tokkio, que garante um atendimento bem humanizado e ágil. O robô pode ser replicado para vários tipos de serviço. Ele faz perguntas, registra pedidos, executa transações bancárias, agenda consultas, faz reservas, enfim, pode ser ensinado para qualquer tarefa através de machine learning.
Robozinho amigável do metaverso da Nvidia conversa de forma natural com clientes. Foto: Divulgação/Nvidia Os resultados da Nvidia
No terceiro trimestre de 2021, as vendas de chips gráficos cresceram 42% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Inclusive, a Nvidia se tornou ainda mais conhecida com a crise mundial dos chips, que está no foco desde o ano passado. Todas as indústrias que usam algum tipo de chip nos seus produtos - de celular e computador a carros - dependem das fabricantes de chips, que amargaram falta de insumos durante a pandemia.
Já as vendas de chips para data center e computação na nuvem tiveram resultado ainda melhor. O aumento foi 55% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2020.
A receita da Nvidia no trimestre foi de US$ 7 bilhões, 50% a mais em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
E o preço das ações da empresa mais que dobrou em 2021. O valor de mercado da Nvidia chega a cerca de US$ 800 bilhões.
Qual será o cifrão mergulhando fundo no metaverso?